Até hoje as religiões não conseguiram, de forma convincente, dar uma explicação para o problema da dor e dos sofrimentos humanos. Muitas delas associam esses infortúnios ao castigo de Deus imposto a Adão e Eva e, para o nosso azar, inclusive meu e de você, se perpetuou para o resto da humanidade até o final dos tempos. Essa é a visão tradicional para explicar a razão do sofrimento humano. Exatamente por isso, sempre fica uma incógnita a respeito da razão do "por que sofremos?". E, como toda a pergunta exige uma resposta, permita-me abordá-la através de uma analogia entre o diamante e o homem na tentativa de explicar esse mistério pela lógica da multiplicidade das existências.
O diamante bruto para transformar-se numa joia de valor inestimável precisa sofrer as pancadas do entalhe desferidas pelo ourives. Pois, assim também é a vida atuando sobre todos nós. As dificuldades, os problemas, os reveses e tantos outros obstáculos com que nos deparamos ao longo da nossa caminhada existencial não somente são instrumentos de aprendizagem como forma de aperfeiçoamento e aprimoramento da alma nascida embrutecida e que, ao longo dos séculos, vai, ao estilo do diamante, sendo lapidada pelos entalhes da vida. Assim é o diamante ao longo dos anos, assim é o homem ao longo dos milênios, assim somos nós, espíritos aprendizes, nessa escola de educação e aperfeiçoamento espiritual chamada Terra. A diferença fundamental, porém, entre o homem e o diamante, é que nós temos a possibilidade de sermos os lapidadores de nós mesmos, na medida em que a nossa transformação em joia preciosa depende exclusivamente de nós através das nossas escolhas. É um trabalho árduo e persistente que exige muita paciência e determinação e, por via de consequência, nos impõem muitas dores e sofrimentos. As dificuldades e os problemas físicos e emocionais nascidos conosco ou que surgem ao longo da nossa jornada são como misteriosos operários que agem nas profundezas da nossa alma, trabalhando para a nossa evolução, e não como castigo divino. À medida, porém, que o espírito vai evoluindo e vencendo as ilusões da matéria, vai, também, percebendo que as dificuldades nada mais são do que os instrumentos apropriados e insubstituíveis na lapidação da pedra mais preciosa da criação: o ser humano.
O espiritismo, principal divulgador no meio ocidental do planeta da tese da reencarnação, veio lançar uma luz no deserto do conhecimento sobre as dores e os sofrimentos humanos na medida em que desfaz a crença milenar de que os padecimentos estão associados ao castigo divino. É através do enfrentamento dos problemas, das dificuldades e dos desafios que a vida nos impõe, que vamos melhorando e, em melhorando, vamos nos transformando para melhor. E todo esse processo de melhoramento através da transformação me faz lembrar o que a borboleta disse para a lagarta: se você não se transformar, nunca vai voar.